Silval Barbosa cobrou uma propina de R$ 8 milhões para conceder incentivos fiscais às empresas Vale Grande Indústria e Comércio de Alimentos (Frialto) e Nortão Industrial de Alimentos, pertencente a Milton Bellincanta. A revelação consta do acordo de delação premiada firmado pelo ex-governador com o MPE (Ministério Público Estadual).
Na negociata, o dono das empresas pediu um desconto de R$ 1,4 milhão, oferecendo R$ 5,6 milhões, pois achou muito o preço muito caro. Era o ano de 2014, o governador de turno aceitou, mas no fim Belincanta pagou somente R$ 1,9 milhão de propina à turma do Silval.
Essa reunião nada republicana teria juntado não só o chefe do Executivo e o corruptor, mas todos os demais denunciados dentro da sede do governo de Mato Grosso, o Palácio Paiaguás, mesmo lugar onde firmaram o contrato para a concessão das renúncias fiscais. Conforme Milton Belincanta, nada fora combinado antes e ele foi “surpreendido” pelo pedido feito durante um ato oficial, mas não o suficiente para fazê-lo perder o faro para “bons negócios” e pedir o desconto.
“Assim, ante a concordância do empresário em realizar o referido pagamento, o denunciado Silval Barbosa chamou o denunciado Pedro Nadaf em seu gabinete e lhe informou que o empresário devia-lhe a importância de R$ 5,6 milhões e que, portanto, providenciasse a forma de recebimento”, consta no trecho da delação que descreve o balcão oficial de negócios montado para a Copa da Fifa 2014 e operado pelas autoridades mato-grossenses da época.
Ainda conforme essa versão, Silval contou aos presentes que esses dinheiros deveriam ir para os técnicos do Governo que elaboravam e formalizavam essas concessões indevidas de incentivos — no caso, os ex-secretários Marcel de Cursi e Pedro Nadaf e o ex-procurador do Estado Francisco “Chico” Lima. “Em seguida, o empresário acompanhou Pedro Nadaf até seu gabinete na Casa Civil, local onde ajustaram que o pagamento da vantagem indevida solicitada se daria no período de 12 meses, portanto, extrapolando inclusive o término do mandato de Silval Barbosa”.
Belincanta, no entanto, jamais pagou o que “devia” ao ex-governador de Mato Grosso. A desculpa usada para não “honrar o compromisso” espúrio foi que em janeiro de 2015 o então novo governador |Pedro Taques (PSDB) ordenou à PGE-MT (Procuradoria-Geral do Estado de Mato Grosso) oferecer ao judiciário uma ação declaratória de nulidade de ato jurídico para anular a pilantragem.
O MPE diz, no entanto, que Silval passou todos os anos seguintes cobrando os R$ 3,6 milhões restantes da “dívida”, mas Bellincanta nunca quis saber de pagar. Os citados — mais Antônio da Cunha Barbosa (irmão de Sival) — são réus pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Chico Lima também é denunciado.