O coronel da Polícia Militar, e ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, Airton Siqueira Junior, que chegou a ser preso na operação que investigou o esquema de interceptações ilegais na PM, afirmou em depoimento à força-tarefa da Polícia Civil (PJC) que o coronel PM Zaqueu Barbosa o teria ameaçado enquanto estava preso. Advogados de Zaqueu teriam ido à casa de Siqueira e feito ameaças.
Segundo o militar, em diversas ocasiões foi procurado por advogados e representantes do coronel Zaqueu, que pediram ajuda e informações.
“Estava em casa quando tocou a campainha e eu saí e me deparei com o Major Dias, para mim foi um susto muito grande, pois eu tinha restrição. Ele pediu desculpas e disse que foi a mando do Zaqueu. Queria saber como o pessoal saiu, os processos todos subiram, todos foram soltos e ele continuou preso”, contou Siqueira à Polícia.
Em outras ocasiões Siqueira afirma que foi procurado por advogados de Zaqueu. Em uma delas, o coronel diz que uma advogada chamada “Cibele” o teria procurado “para avisar que o sócio dela precisava de umas orientações”. Em outra abordagem um advogado transmitiu o pedido de ajuda de Zaqueu e ameaças.
“Ele dizia que foi abandonado, que todos estão soltos e ele não. Disse que eu precisava ajudá-lo e manter contato com Gerson e que ele já tinha conversado com amigos dele do passado e resolveria da maneira dele. De forma violenta. Foi muito complicado. Para mim está sendo difícil ter que fazer isso pela história que tínhamos, mas ir dentro da minha casa fazer isso é inaceitável”, ressaltou.
Zaqueu foi o único condenado no julgamento do último dia 7 de novembro, na 11ª Vara Criminal Especializada em Justiça. Ele deve cumprir oito anos de reclusão em regime semiaberto pelos crimes relacionados à Grampolândia Pantaneira. Outro envolvido, o cabo Gerson Correia Junior recebeu perdão judicial. Já os coronéis Evandro Alexandre Ferraz Lesco e Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel Januário Antônio Batista foram absolvidos.
Força-tarefa
No último mês de outubro o juiz Jorge Tadeu, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, enviou à força-tarefa da Polícia Civil o inquérito que apura parte do esquema de interceptações telefônicas ilegais conhecida como “Grampolândia Pantaneira”.
A determinação abrange fatos ligados ao ex-governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), que estavam no Superior Tribunal de Justiça (STJ) até o começo de 2019. Com o fim do foro privilegiado de Taques, os autos seguem às delegadas Jannira Laranjeira e Ana Cristina Feldner.
Prisões
Ainda em 2017, a Operação Esdras, assinada pelo desembargado Orlando Perri, do Tribunal de Justiça (TJMT), barrou tentativa de atrapalhar as investigações sobre os grampos ilegais em Mato Grosso.
Na ocasião, foram presos o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, Airton Siqueira Junior, o ex-chefe da Casa Militar, Evandro Lesco, o sargento João Ricardo Soler, o ex-secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, além do ex-secretário da Casa Civil, Paulo César Taques.
Esdras
A operação responsável por revelar o esquema de interceptações ilegais na PM chama-se "Esdras" e foi desencadeada em 27 de setembro de 2017, com base no depoimento prestado pelo tenente coronel da Policia Militar José Henrique Costa Soares, revelou um verdadeiro esquema criminoso para frear as investigações sobre interceptações ilegais e afastar o desembargador.
Conforme os autos, em depoimentos prestados por Soares, “descortinou-se um sórdido e inescrupuloso plano” no intuito de interferir nas investigações policiais e macular a reputação do desembargador Orlando Perri em todos os inquéritos instaurados.
Segundo o processo, Costa Soares foi convocado para atuar como escrivão no inquérito do caso grampos. Logo da convocação, a suposta organização criminosa teria buscado sua cooptação.
Seria tarefa do tenente coronel a juntada de informações sobre Perri para provocar a suspeição do magistrado.
Reportagem do programa "Fantástico", da Rede Globo, revelou na noite de 14 de maio que a Polícia Militar em Mato Grosso “grampeou” de maneira irregular uma lista de pessoas que não eram investigadas por crime.
Segundo a denúncia do MPE, foi Gerson quem fez à Justiça os pedidos de autorização para interceptação de números de telefones de políticos, advogados e jornalistas, grampeados no esquema. A prática de gravação telefônica clandestina, de pessoas que não são acusadas de crime, é conhecida como “barriga de aluguel”. Acusado de ser o operador do esquema, o cabo Gerson, também ficou encarcerado por nove meses.