Uma professora foi detida e arrastada em uma festa de uma igreja católica na cidade de Campos de Júlio, a 692 km de Cuiabá. Lisanil Conceição Patrocínio Pereira é professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e participava do evento no domingo (13) quando subiu no palco e foi retirada à força por um grupo de pessoas, inclusive policiais.
Os participantes e organizadores alegaram que ela causou tumulto e confusão no local e, por isso, chamaram a polícia. Eles acusam a professora de estar transtornada e embriagada. A Polícia Civil disse que ela foi detida por causar tumulto e desacato.
A Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso –(Adunemat) emitiu nessa terça-feira (15) uma nota de repúdio sobre o ocorrido. A entidade alegou violência e truculência por motivação política.
Vídeos gravados por participantes da festa mostram o momento em que um policial civil aborda a professora no palco e tenta retirá-la à força. Pelo menos outros quatro homens também tentam segurá-la. Ela é puxada pelos braços e arrastada pela escada do palco.

Professora é arrastada e detida em festa de igreja em MT
O G1 ligou para a professora, que afirmou que vai se posicionar por meio da associação da classe. Ela disse estar abalada emocionalmente e não quis comentar sobre o que aconteceu.
Em nota, a Adunemat declarou que 'a professora foi vítima da mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de sua dignidade humana enquanto docente do ensino superior, trabalhadora, mãe, chefe de família'.
Lisanil é professora há 15 anos e dá aulas em Juara, a 690 km de Cuiabá. Ela estava em Campos de Júlio a trabalho e foi para a festa para poder almoçar.
A festa religiosa era em comemoração ao Dia de Nossa Senhora Aparecida, lembrado no sábado (12), e era realizado em um pavilhão de uma igreja católica da cidade.
A professora, que vestia uma camiseta com as frases 'Lute como uma Garota' e 'Lula Livre', disse à Adunemat que foi 'abordada de forma ostensiva pelos participantes que comentavam e a olhavam com estranheza e desdém pelas marcas de sua orientação política, estampada na camiseta'.
Lisanil disse que subiu no palco para pedir que tocassem músicas mato-grossenses. A maioria dos participantes era de origem gaúcha.
O grupo decidiu retirar a professora do local e chamou a polícia. Ela foi arrastada pelo palco e pela escada e levada algemada à delegacia.
“Que crime a professora cometeu? Que periculosidade tinha uma mulher sozinha, desarmada e sem qualquer habilidade física para enfrentar os brutamontes que a atacaram? O que justificou tamanha violência senão o ódio às mulheres consideradas perigosas por serem autônomas e por terem posição política e a coragem de enfrentar um estado ainda patriarcal e violento?”, questionou a Adunemat na nota.
Para os professores, Lisanil foi ameaçada e agredida por causa da posição política dela.
Organizadores da festa
Eles disseram que a professora estava embriagada e comportamento alterado no evento. Conforme os organizadores, a professora não dizia palavras que faziam sentido e teria xingado e desacatado os policiais.
No entanto, os organizadores negam que algum integrante da festa tenha tocado, arrastado ou abordado a professora, como foi registrado nas filmagens.
Os representantes também negaram que a situação ocorreu por motivações políticas, como foi dito pela associação que representa a professora.
Polícia Civil
A Polícia Civil, por meio de assessoria, explicou que a professora foi detida e autuada em flagrante pelos crimes de pertubação do sossego, desacato e resistência.
Ela pagou fiança de R$ 2,5 mil na segunda-feira (14) e foi solta.
A instituição negou relação política, afirmou que ela tinha ingerido bebida alcoólica e causado tumulto na festa.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, a professora agrediu e xingou os dois policiais civis que foram ao local. A Polícia Civil não se manifestou sobre a acusação de truculência.