O promotor Alan Sidney do Ó abriu o julgamento dos cinco militares acusados de participar de um esquema que grampeou centenas de pessoas, entre elas políticos e jornalistas, nesta quarta-feira (6), na 11ª Vara Criminal Especializada Justiça Militar, em Cuiabá. São julgados os coronéis da Polícia Militar Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco e Ronelson Barros, o tenente coronel Januário Batista e o cabo Gerson Corrêa Júnior.
"Estamos diante se um triste e nefasto escritório de arapongagem", disse o promotor.
Ele disse que não pode afirmar, mas que não descarta a possibilidade do ex-governador Pedro Taques (PSDB) ter sido eleito para o cargo com o apoio desse esquema de interceptações clandestinas, que vigorou entre 2014 e 2015 e foi operado pela Polícia Militar. Pedro Taques não é réu.
"Se não fosse esse nefasto escritório o então candidato não seria governador? Não disse isso. Mas estou dizendo que não descarto essa possibilidade", declarou.
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Cinco militares são julgados — Foto: Ianara Garcia/ TVCA
Em determinado momento, ele foi interrompido pelo advogado Abib Miguel, que atua em defesa do cabo Gerson Corrêa Júnior, um dos réus.
Durante o discurso de acusação, o promotor falou "né cabo Gerson?!" e o advogado disse que ele não poderia se dirigir diretamente ao réu, mas sim à defesa dele.
Os militares respondem pelos crimes de ação militar ilícita, falsificação de documento, falsidade ideológica e prevaricação. Os crimes dos quais os policiais são acusados estão previstos na legislação militar.
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Emanuel Figueiredo, advogado de Pedro Taques, compareceu à Vara — Foto: Ianara Garcia/ TVCA
O advogado do ex-governador Pedro Taques, Emanuel Figueiredo, compareceu à Vara, mas não ficou no julgamento. Ele afirmou que Zaqueu disse na força-tarefa que Pedro Taques mandou destruir provas, mas não manteve a versão à Justiça Militar e que, na opinião dele, a audiência de julgamento deveria ser suspensa.
Os julgamentos que começaram nesta quarta são os relacionados ao Inquérito Policial Militar, que apura os supostos crimes militares cometidos pelos PMs. Já o inquérito civil ainda está em curso, na Polícia Civil, e também inclui Pedro Taques, o primo dele, Paulo Taques e outras cinco pessoas.
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Pedro Taques não é réu em ação — Foto: TVCA/Reprodução
Neste ano, depois que o ex-governador perdeu o foro, os demais processos da Grampolândia Pantaneira, como ficou conhecido o esquema, que estavam no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, foram remetidos de volta a Mato Grosso.
No total, foram nove inquéritos. Desses, sete estão atualmente com a Polícia Civil. Um está no tribunal de justiça por suposto envolvimento de magistrados e outro na Procuradoria Geral de Justiça , por supostamente envolver membros do Ministério Público.
Além dos presos no inquérito policial militar, outras pessoas também chegaram a ser presas ao longo das investigações da Polícia Civil. São elas: os ex-secretários Paulo Taques, da Casa Civil; Rogers Jarbas, da Segurança Pública; coronel Airton Siqueira Junior, da Justiça e Direitos Humanos, além do sargento João Ricardo Soler, o major Michel Ferronato e da personal trainer Helen Christy Lesco, mulher de Evandro Lesco. Eles são acusados de obstrução à Justiça.
Os telefones de jornalistas, advogados, políticos e médicos, entre outros, foram incluídos numa investigação conduzida pelo Núcleo de Inteligência da PM sobre policiais militares que estariam envolvidos com tráfico de drogas.
Os pedidos para inclusão dos números foram feitos à Justiça pelo cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Junior, de 32 anos, que seria parte da Inteligência da PM. Atualmente ele está lotado na Casa Militar de Mato Grosso, após ser transferido do Gaeco (Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Estado, em junho de 2016.