O cooperativismo financeiro tem se consolidado como agente transformador na economia brasileira, democratizando o acesso a serviços financeiros e priorizando regiões historicamente desassistidas pelo sistema bancário tradicional.
No que se refere à educação financeira e inclusão territorial, as cooperativas respondem por mais de 90% das ações implementadas nacionalmente, demonstrando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável das comunidades. A presença das cooperativas em territórios desassistidos é notável: entre 2021 e 2025 foram abertas 320 novas dependências nas regiões Norte e Nordeste, enquanto os bancos tradicionais fecharam 140 agências. E esta estratégia terá continuidade, considerando que as cooperativas ainda estão presentes em apenas 15% dos municípios do Nordeste e 42% do Norte.
Outro dado significativo é que em mais de 900 localidades, as cooperativas são as únicas instituições financeiras presentes, atuando como verdadeiros motores de transformação social.
Com relação aos benefícios econômicos do modelo cooperativo, por sua natureza não lucrativa, em que o usuário também é proprietário, as cooperativas praticam condições mais vantajosas. Conforme o conceito de benefício econômico do Banco Central, apenas os dois maiores sistemas cooperativos geraram ganhos de R$ 57,4 bilhões aos cooperados em 2024. Deste montante, R$ 45,34 bilhões representam economia nas taxas de juros em empréstimos e financiamentos.
A democratização do crédito produtivo é outra característica. No financiamento a empreendedores e pequenos agricultores com recursos do BNDES, as cooperativas se destacam por cobrar spreads menores, reduzindo o custo final para o tomador; oferecer prazos, em média, 12 meses mais longos que as instituições tradicionais; destinar 91% da carteira Pessoa Jurídica para micro, pequenas e médias empresas (contra 77% nos demais agentes); responsabilizar-se por 82% das operações de Pronaf Investimento e 100% de Pronaf Custeio; e deter 70% das operações concedidas nos programas do BNDES.
Estes números evidenciam o papel das cooperativas na desconcentração do crédito, atendendo segmentos frequentemente negligenciados pelo sistema financeiro tradicional.
No que tange ao propósito, de promover impacto social e desenvolvimento local, o modelo cooperativo equilibra sustentabilidade econômica com impacto social. Ao não visar prioritariamente o lucro, as cooperativas conseguem oferecer melhores condições, especialmente para pequenos empreendedores e agricultores familiares.
A presença em comunidades remotas, onde muitas vezes são a única opção de acesso a serviços financeiros, reforça seu papel de promotoras de desenvolvimento local.
Este modelo de negócio estabelece um novo paradigma de relacionamento financeiro – baseado em pertencimento, participação e distribuição justa dos benefícios gerados coletivamente. As cooperativas não apenas preenchem lacunas deixadas pelo sistema tradicional, mas oferecem uma alternativa que coloca as pessoas e suas necessidades no centro de sua atuação, com o resultado de transformar realidades e promover justiça financeira.
*João Spenthof é presidente da Central Sicredi Centro Norte e vice-presidente da OCB/MT (Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Mato Grosso).