A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 8,15 bilhões em abril deste ano, conforme informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). Embora positivo, o número representa uma queda de 3,3% em relação ao mesmo mês de 2024, quando o superávit foi de US$ 8,43 bilhões. É o pior desempenho para meses de abril desde 2023, quando o resultado havia sido de US$ 7,95 bilhões.
O saldo é considerado superavitário quando as exportações superam as importações — o que ainda ocorreu em abril —, mas os números sinalizam uma desaceleração no ritmo de crescimento comercial. As exportações totalizaram US$ 30,4 bilhões (alta de 10,3% na média por dia útil), enquanto as importações somaram US$ 22,3 bilhões (alta de 11,8%).
Esse desempenho ocorre em um cenário de tensão no comércio internacional, marcado pela adoção de novas tarifas de importação pelos Estados Unidos. O chamado “tarifaço” do presidente Donald Trump, que impôs sobretaxas de até 145% sobre produtos chineses e elevou tributos sobre exportações de diversos países, também afetou o Brasil — embora de forma mais branda. Produtos brasileiros tiveram tarifa de 10%, a mesma aplicada ao Reino Unido e menor que as aplicadas à União Europeia (20%) e à China (34%).
Ainda assim, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram 21,9% em abril, atingindo US$ 3,57 bilhões. No mesmo período do ano passado, o valor havia sido de US$ 2,93 bilhões. Especialistas em relações internacionais consultados pela GloboNews avaliaram que o Brasil obteve “certa vantagem” no processo, escapando das sanções mais severas e mantendo competitividade em setores estratégicos.
Entre os destaques das exportações brasileiras no mês de abril estão a soja (US$ 5,9 bilhões, com queda de 6,1%), os óleos brutos de petróleo (US$ 4,5 bilhões, queda de 0,2%), o minério de ferro (US$ 2,07 bilhões, recuo de 14,3%) e o café não torrado (US$ 1,25 bilhão, com alta de 36,3%). Outro setor que se destacou, foram as exportações de carne bovina (US$ 1,21 bilhão, +29,1%) e de óleos combustíveis (US$ 1,15 bilhão, -11,5%).
Além disso, os principais destinos dos produtos brasileiros em abril foram China e Macau (US$ 9 bilhões, queda de 6,7%), União Europeia (US$ 4,76 bilhões, -1,3%), Estados Unidos (US$ 3,56 bilhões, +21,9%), Mercosul (US$ 2,2 bilhões, +33,1%, sendo US$ 1,6 bilhão para a Argentina, +45,2%) e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (US$ 2,15 bilhões, -12,5%).
No acumulado de janeiro a abril, o superávit da balança comercial soma US$ 17,73 bilhões, uma queda de 34,2% em relação ao mesmo período de 2024 (US$ 26,92 bilhões). As exportações no quadrimestre chegaram a US$ 107,3 bilhões (alta de 1,8%), enquanto as importações foram de US$ 89,58 bilhões (alta de 13,2%).
Outro ponto que chamou a atenção nesse processo foi a balança comercial que foi influenciada por políticas internas voltadas ao combate à inflação. O governo zerou impostos de importação sobre alimentos como azeite, carnes, milho e café. Os efeitos foram variados: enquanto as importações de bolachas (88%), milho (131%) e cafés torrados (35%) subiram, as de azeite (-4,6%) e carnes (-33%) caíram.
O tarifaço norte-americano tem provocado reações internacionais. A China segue sendo alvo principal das sanções e já retaliou com tarifas que chegam a 125%. O Brasil monitora de perto o desenrolar das medidas, especialmente diante da possibilidade de um novo pacote de tarifas, prometido por Trump para o dia 2 de abril — apelidado por ele de “Liberation Day” (Dia da Libertação). A proposta seria elevar as tarifas de importação de acordo com o nível de taxação enfrentado por produtos americanos em mercados estrangeiros, o que pode incluir o Brasil.
Relatórios do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e do Bradesco indicam que a tarifa média simples cobrada pelo Brasil dos EUA foi de 11,3% em 2022, contra 2,2% dos EUA sobre o Brasil. Mesmo considerando médias ponderadas, o Brasil continua aplicando tributos mais altos (4,7% contra 1,3%).
O governo brasileiro argumenta, no entanto, que 74% das exportações americanas entram no Brasil sem tributação, e que a tarifa efetiva média brasileira é de apenas 2,73%. Entre os itens isentos de impostos estão petróleos, aeronaves e gás natural.
Caso os EUA elevem suas tarifas para o patamar médio brasileiro, um estudo do Bradesco estima uma queda de até US$ 2 bilhões nas exportações brasileiras — cerca de 5% do total —, impacto que poderia ser parcialmente compensado por uma desvalorização cambial de 1,5%.
O setor de etanol está no centro da tensão comercial entre os países. Os EUA cobram tarifa de apenas 2,5% sobre o etanol brasileiro, enquanto o Brasil mantém alíquota de 18% sobre o combustível americano. O presidente dos Estados Unidos, já sinalizou que poderá incluir o etanol em um próximo pacote de tarifas.
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a postura americana durante visita ao Japão e afirmou que o Brasil pretende recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Caso não haja avanços na OMC, o governo brasileiro promete adotar medidas de reciprocidade. Um projeto de lei que amplia os instrumentos de retaliação comercial já foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e pode ser votado em caráter de urgência pela Câmara dos Deputados.
Diante de toda essa guerra, a escalada tarifária é acompanhada de perto pelo mercado financeiro. Enquanto o Banco Central brasileiro elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano — o maior nível desde 2006 —, o Federal Reserve optou por manter os juros dos EUA entre 4,25% e 4,50%. Essa incerteza quanto ao futuro das relações comerciais entre Brasil e EUA também afeta o humor dos investidores, com impactos sobre o câmbio e a inflação.
A balança comercial brasileira, embora ainda superavitária, enfrenta agora um cenário internacional mais volátil, com riscos reais de uma guerra comercial que pode atingir setores estratégicos da economia. O país precisa equilibrar diplomacia e medidas internas para preservar sua competitividade e estabilidade macroeconômica nos próximos meses.