Rio de Janeiro — Em vídeo publicado nas redes sociais na tarde desta quinta-feira (19), o senador Flávio Bolsonaro deu sua versão sobre as transações financeiras investigadas pelo Ministério Público (MP) do Rio em operação na última quarta-feira em endereços ligados a ele, ao seu ex-assessor Fabrício Queiroz e aos parentes da ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle.
A apuração do MP está relacionada à suposta prática de rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), no período em que ele atuou como deputado estadual.
Um dos pontos abordados por Flávio diz respeito aos depósitos recebidos na conta de sua loja de chocolates localizada em um shopping da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, e feitos pelo sargento da Polícia Militar do Rio Diego Sodré de Castro Ambrósio.
Os valores dos repasses variaram entre R$ 2,3 mil e R$ 5,6 mil, entre dezembro de 2015 e janeiro de 2018, quase sempre no fim do ano. Ao todo, a empresa de Flávio recebeu R$ 21,1 mil do PM. O parlamentar afirma que o dinheiro era referente ao pagamento de produtos da loja, adquiridos por Ambrósio para presentar clientes nas festividades do mês de dezembro.
“Como ele (Ambrósio) é um pequeno empresário, a realidade dele não é a Polícia Militar, ele é um pequeno empresário bem-sucedido, ele comprava produtos da minha loja no final do ano para dar de presente pros seus clientes. O que é que tem de absurdo nisso?”, questiona Flávio no vídeo de 14 minutos, no qual também se explica sobre outros pontos apurados pelo MP.
No site da franqueadora à qual a loja de Flávio está associada, o panetone mais barato está sendo vendido este ano por R$ 84,90. Com R$ 21,1 mil, a quantia que Ambrósio destinou à conta da loja, seria possível adquirir 248 panetones.
Nos três fins de ano nos quais o PM teria feito as aquisições, ele conseguiria comprar, com seus depósitos: 52 panetones em 2015 (depósito de R$ 4,4 mil em dezembro); 35 panetones em 2016 (depósito de R$ 3 mi em dezembro) e 95 panetones em 2017 (dois depósitos de R$ 2,9 mil em dezembro e outro de R$ 2,3 mil em janeiro de 2018). Ao todo, os R$ 21,1 mil pagariam por 182 unidades do panetone mais barato.
No vídeo, o senador também rebateu outros pontos abordados na investigação do MP. Ele disse que recebe mais dinheiro da loja, em relação ao sócio Alexandre Ferreira Dias Santini, porque “leva mais público” para ao local. Flávio disse ainda que seria “mais fácil” lavar dinheiro em um “negócio particular” do que em uma franquia.
“Se eu fosse vagabundo, como muitos pensam, acham que eu estaria preocupado em abrir uma franquiazinha? Em abrir um negócio particular, fora do meu mandato? Se eu tivesse alguma sacanagem, eu não estava preocupado com isso. Dinheiro não seria problema pra mim. Mas eu sempre fiz tudo direitinho, dentro da lei”, justificou.
Flávio também fez referência ao boleto de R$ 16,5 mil, referente a parcela de um apartamento, que Ambrósio pagou em nome da mulher do parlamentar, Fernanda Antunes Nantes Bolsonaro.
Na versão do senador, Ambrósio teria feito o pagamento para auxiliá-lo em uma ocasião na qual ele esqueceu de efetuar o pagamento e só se deu conta quando as agências bancárias já estavam fechadas.
Flávio diz que não tinha um aplicativo do banco instalado em seu celular para efetuar a operação e, por isso, solicitou ao amigo que o fizesse. Em seguida, um reembolso teria encerrado o empréstimo temporário.
“É um policial militar amigo meu, que em uma única ocasião na minha vida, se eu não me engano foi porque o banco já tinha fechado e eu não tinha o aplicativo na época, eu pedi para ele pagar uma conta pra mim, que era um boleto de uma parcela do apartamento, que eu tava pagando. Ele pagou e depois eu reembolsei. Qual o problema nisso?”, disse Flávio, que alega ser casado em regime de comunhão parcial de bens com Fernanda, o que justificaria a comunicação entre os bens de ambos.
Ainda sobre a investigação do MP, Flávio insinuou que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), pode ter interferido no caso e também criticou a atuação dos promotores e do juiz Flávio Itabaiana, do Tribunal de Justiça do Rio, responsável por autorizar a ação de busca e apreensão de quarta-feira e também a quebra de sigilo fiscal e bancário, em maio, de Flávio, Queiroz e outras pessoas investigadas no caso.