A força tarefa da Polícia Judiciária Civil, que conduz o inquérito das interceptações ilegais em Mato Grosso, caso conhecido como Grampolândia Pantaneira, está apurando o envolvimento do coronel da Polícia Militar, Airton Siqueira, em ações para atrapalhar as investigações. Siqueira chegou a ser preso por obstrução à justiça na “Operação Esdras”, deflagrada em setembro de 2017.
Na época, um grupo da Segurança Pública montou um plano que envolveu a instalação de uma câmera numa farda da PM. O objetivo era atrapalhar as investigações sobre as escutas clandestinas, com a gravação do desembargador Orlando Perri, relator do caso no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Além da obstrução a Justiça, Airton Siqueira Junior é acusado de violar medidas cautelares impostas na ocasião de sua soltura. Segundo a força-tarefa da Polícia Civil, um mês depois de ser solto, ele teria cometido infrações, como manter contato com investigados e agentes da Sesp (Secretaria de Segurança Pública), além de saídas noturnas.
O coronel Siqueira, que foi secretário da Casa Militar na gestão do ex-governador Pedro Taques (PSDB), não chegou a ser denunciado no Inquérito Policial Militar, que teve seu desfecho na última semana, com a condenação do coronel Zaqueu Babrosa a 8 anos de prisão em regime semiaberto. Outros três militares foram absolvidos e o cabo Gerson Correa Junior recebeu o perdão judicial.
Porém, uma reportagem do MTTV 2ª Edição (TV Centro América), aponta que Siqueira teria participado diretamente para a realização dos grampos ilegais no Estado. Um documento de quase 200 páginas mostra a escala de trabalho da sargento Andréia Pereira Moura Cardoso entre julho e dezembro de 2014.
Nessa época, ela estava escalada para trabalhar no Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), unidade comandada por Siqueira, mas não aparecia no local de trabalho. Segundo foi apurado, na realidade ela atuava no escritório clandestino de interceptações ilegais, que teria sido montado por policiais militares.
Na planilha de escala de trabalho de 2 de dezembro de 2014, o coronel Siqueira escalou a sargento para trabalhar das 7 da manha às cinco da tarde para serviços administrativos. Esta escala se repetiu em outros dias.
A força-tarefa da PJC, coordenada pelas delegadas Ana Cristina Feldner e Jannira Laranjeira, já compartilhou as informações com o juiz Marcos Faleiros, titular da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar da Capital. Elas querem saber agora porque a sargento Andréia continuava escalada para trabalhar no Ciopaer, mesmo não comparecendo no serviço.
Em depoimento à Justiça e a própria força-tarefa, Andréia confirmou que foi conversar com o coronel Zaqueu Barbosa – apontado como um dos líderes do esquema de interceptações - e passou a trabalhar no escritório montado para beneficiar a organização criminosa. Segundo a sargento, o contato com Zaqueu teria sido a mando de Siqueira, na época comandante do Ciopaer.
Além de Siqueira, o tenente coronel Januário Batista, que chegou a ser denunciado pelo Ministério Público por falsificação de documentos, falsidade ideológica e prevaricação, e também emprestou policial lotado no 4º Batalhão da PM para trabalhar no escritório da Grampolândia. A diferença, é que ele teria formalizado o procedimento junto à PM.
Januário foi alvo do inquérito militar e absolvido das acusações por falta de provas. Já Siqueira segue sendo investigado.