Da Redação
Um relatório obtido com exclusividade pelo jornal Centro Oeste Popular aponta que investigações da Polícia Federal mostram que o empresário Gércio Marcelino Mendonça Júnior, o Júnior Mendonça, pode ser “laranja” de uma rede de postos de combustíveis na Grande Cuiabá. Os postos da Rede Amazônia são de propriedade do empresário, que é delator da Operação Ararath, que investiga a realização de pagamentos por parte do Governo do Estado, em desacordo com as determinações legais, para empreiteiras, além do desvio desses recursos em favor de agentes públicos e empresários, através da utilização de instituição financeira clandestina. Júnior Mendonça, inclusive, foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Renúncia e Sonegação Fiscal na Assembleia Legislativa no mês de agosto, quando prestou um depoimento inusitado, apontando para a existência de postos de combustíveis na Capital registrados em nome de laranjas e que praticam a sonegação de impostos e a venda de produtos adulterados, exatamente o crime apontado pelo relatório da PF que o CO Popular teve acesso.
“O que é muito estranho realmente no setor, é que temos um número de postos que realmente atuam sem qualquer licença de operação em nome de laranjas e com combustíveis sem procedência. Só que não chegou para mim que havia facção por trás do posto. O que observamos é que existe um número pequeno de postos, uns 15, que estejam trabalhando de forma completamente irregular e sem licenças”, revelou durante oitiva na CPI. Júnior Mendonça foi um dos primeiros homens de Mato Grosso a fazer delação premiada, em 2014. Dono de postos de combustíveis na capital e da Globo Fomento Mercantil, empresa de financiadora de crédito, Júnior Mendonça sempre viveu na capital mato-grossense. Antes de começar a atuar no ramo de revenda de combustíveis, até 2006 ele só mantinha a factoring, que operava supostamente sem autorização do Banco Central. Colaborador 'premiado' das investigações acerca de empréstimos fraudulentos e lavagem de dinheiro, Júnior Mendonça teria ajudado vários políticos no financiamento de campanhas eleitorais. Inquérito do Ministério Público Federal (MPF) aponta que ele teria emprestado cerca de R$ 7 milhões ao governador Silval Barbosa na campanha à reeleição em 2010. Mendonça também foi citado pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao ressaltar a existência de bancos clandestinos operados em Mato Grosso.
Na denúncia feita contra o ex-governador e atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, no mês de maio de 2018 por corrupção ativa, Dodge citou que Júnior Mendonça usava nomes de seus familiares e de pessoas jurídicas para “lavar” dinheiro na factoring Globo Fomento Mercantil, de sua propriedade. “Além de fazer atividades típicas de instituições financeiras, sem a devida autorização do Banco central – como a concessão de empréstimos e a cobrança de juros, que não são atividades de fomentos ostentadas como fachada – Gércio Marcelino de Mendonça Junior utilizava a mesma estrutura empresarial para praticar o crime de lavagem de dinheiro, com auxilio e/ou usando nomes de familiares próximos e de pessoas jurídicas constituídas em nome deles”, argumentou a procuradora-geral. “Neste contexto, as investigações se estenderam a outras pessoas físicas – seu pai (Gercio Marcelino Menonça), seus irmãos (Claudio Fernando Mendonça e Roni Henrique Mendonça), além de outros associados, devidamente identificados e pessoas jurídicas, dentre estas: Treze Administradora de Bens Ltda., GR Fomento Mercantil e GM Comércio de Tintas”, continuou.
Conforme Raquel, além da factoring, Júnior Mendonça também chegou a utilizar a estrutura da sua rede de postos de combustíveis, a Comercial Amazônia de Petróleo Ltda., para conceder empréstimos para pessoas físicas e jurídicas, “cobrando remuneração (juros), exigindo garantias (inclusive reais) e intermediando o fluxo de recursos de terceiros, dentre outras operações ilegais”. A delação de Júnior Mendonça permanece sob sigilo, apesar de trechos de algumas terem sido vazadas. Ele chegou a devolver cerca de R$ 12 milhões aos cofres públicos. A delação de dele é que permitiu a Ararath chegar a nomes como o do então governador da época Silval Barbosa e do ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), além do ex-presidente da Assembleia Legislativa José Riva, todos alvos da quinta fase da operação, deflagrada em maio de 2014.
Júnior Mendonça revelou o esquema de empréstimo para financiamento de campanha, e como eram pagos, por meio de empresários que tinham contratos superfaturados com o estado. A sua delação abriu caminho para que outros empresários envolvidos no esquema também procurassem o Ministério Público Federal (MPF) para colaborarem. A primeira delação ainda permitiu compartilhamento de provas com o MP de Mato Grosso, que gerou outras importantes operações locais, que revelaram esquemas de corrupção engendrada no Palácio Paiaguás e Assembleia Legislativa. A reportagem do CO Popular tentou insistentemente contato com o empresário Júnior Mendonça, mas até o fechamento da edição não obteve retorno.