Criterioso relatório sobre o desmatamento na Amazônia, lançado pelo Instituto Centro Vida (ICV), na Espanha, nesta manhã (11), expõe, pedagogicamente, com dados, tabelas e gráficos, ao mundo que grandes fazendeiros são os maiores responsáveis pelo problema. Em Mato Grosso 85% dos desmates mapeados por satélite do Inpe foram ilegais. O Estado assina 17% da devastação da floresta, de importância internacional. Uma área de 1.685 km², maior que o município de São Paulo.
O lançamento foi feito na COP Madri, que é o maior evento climático do mundo. Este ano provoca com o slogan “Hora da Ação”. O evento reúne mais de 50 chefes de Estado. Nele, o vice-governador Otaviano Pivetta e a secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, representam o Governo. Os dois viajaram à Espanha com comitiva.
ICV
O período analisado é de agosto de 2018 a julho de 2019. Em 1 ano, de acordo com o que satélites do Inpe "viram", fazendeiros de Mato Grosso, cadastrados ou não, derrubaram maior parte da floresta devastada. A intenção deles é, em sua maioria, abrir pasto e promover a pecuária. Em fazendas com inscrição no Cadastro Ambiental Rural, o CAR, 55% do desmate se concentrou em grandes imóveis, com mais de 1,5 mil hectares. O CAR é como um RG das propriedades.
Ao separar o desmatamento autorizado e analisar somente o ilegal, o estudo identifica que 74% de toda a ilegalidade aconteceu em apenas 1.065 imóveis rurais, o que representa pouco mais de 1% do total de cadastrados. “Ou seja, são poucos os imóveis rurais que descumprem a legislação florestal e colocam em risco a legalidade e sustentabilidade da produção agropecuária de Mato Grosso”, diz trecho do estudo.
Colniza foi o município com maior área de floresta desmatada em Mato Grosso em 2019. O segundo lugar no ranking ficou com a vizinha Aripuanã, com 156 km².
JP Rodrigues/Metrópoles
Bolsonaro entra em embate com Inpe em julho
Bolsonaro
Em julho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse publicamente que o Inpe erra ao apontar o galopante desmatamento na Amazônia e prejudica a imagem do Brasil “lá fora”. O comentário gerou polêmica e a exoneração do então diretor do Instituto, Ricardo Galvão, em agosto.
“Quem combate a corrupção não pode ser conivente com isso”, diz o engenheiro florestal Vinicíus Silgueiro, do ICV. Ele acredita que estes dados, que, na visão dele, são confiáveis, ao longo dos anos, podem forçar políticas de responsabilização contra a impunidade.
Engenheiro florestal Vinícius Silgueiro, do ICV: diante dos dados, não dá para ser conivente
Ele prevê que, após ter sido lançado no evento climático, o relatório será noticiado pelo mundo, o que amplia o embate ambientalistas-Bolsonaro.
Outro lado
Na contramão do que aponta o relatório do ICV, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) vem falando em controle do desmate e até em pioneirismo na redução das estatísticas. Afirma que conseguiu manter indicadores abaixo dos recomendados em acordos internacionais - 1.788 km² - e reduziu 86% do desmate na Amazônia entre 2004 e 2019, sendo assim cumpre seus compromissos ambientais no combate ao desmatamento.
Entidades que representam o agro, Aprosoja e Famato, procuradas pelo , não quiseram comentar o assunto, antes de ter acesso à íntegra do relatório. Mesmo assim, o site se mantém aberto a outras vozes da agropecuária local.