Regina Botelho Da Redação
CO Popular- Sobre a matéria aprovada pela Assembleia Legislativa que desobriga pessoas físicas e jurídicas que consomem até 49,5 mil metros cúbicos de madeira a apresentar o Plano de Suprimento Sustentável. Que impactos a medida deve trazer para o setor e ao meio ambiente?
Valdinei dos Santos- Quando se fala em produção, sobretudo florestal, temos que enfrentar polêmicas que, no nosso entendimento, são desnecessárias. O PSS, que é o Plano de Suprimento Sustentável, determina que a indústria apresente a origem da matéria-prima utilizada, visando dar sustentação à atividade. No entanto, o setor de base florestal mato-grossense tem como prática de mercado a produção por meio do Plano de Manejo Florestal Sustentável [PMFS]. Desta forma, atendemos todas as exigências previstas na legislação vigente, para que se possa ter acesso às Autorizações de Exploração Florestal – Autex.
CO Popular- A polêmica se deve ao posicionamento de uma minoria no Parlamento que acredita que a desobrigação do PPS deverá resultar num aumento do desmatamento. Isso pode acontecer?
Valdinei dos Santos- Quando a Lei Complementar nº 233 foi sancionada em 2005, não existia ainda o instrumento do Plano de Suprimento Sustentável. Por isso o ajuste da matéria à nova realidade, em sintonia com o novo Código Florestal. Sobretudo, é importante destacar que as indústrias do setor de base florestal de Mato Grosso têm assegurada no Plano de Manejo Sustentável a garantia da origem da madeira colhida. Portanto, é um equívoco afirmar que a alteração estimulará o aumento do desmatamento no estado. Na verdade, a medida apenas diminui a burocracia.
CO Popular- O setor é extremamente fiscalizado. O mundo está de olho na Amazônia brasileira. Como o setor tem lidado com isso?
Valdinei dos Santos - Os sistemas de fiscalização são tão eficazes que permitem aos órgãos ambientais identificarem, via satélite, os ilícitos quase que em tempo real, dentro de uma sala de monitoramento. É o caso das imagens do sistema Planet que nos foram apresentadas recentemente pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente [Sema]. Ele identifica o desmatamento sem autorização e permite que o órgão autue o responsável imediatamente.
O Sisflora também permite transparência e monitoramento, por meio dos mecanismos de comando e controle. Infelizmente ainda há empresas que cometem atos ilícitos. O setor não tem como estar 100% imune a isso. Daí a importância de se investir na modernização dos mecanismos de fiscalização. Vale destacar que nas últimas operações que ocorreram no Estado, nenhum associado do Cipem estava envolvido. Para fazer parte da entidade é preciso caminhar certo.
CO Popular- E qual o cenário atual deste mercado, que sofre grande pressão por parte dos ambientalistas?
Valdinei dos Santos- Sofremos uma pressão muito grande por parte de organismos políticos e da mídia, que insistem em imputar ao setor a imagem de desmatador, de inimigo do meio ambiente. Contudo, Mato Grosso hoje é uma grande referência nacional quando o assunto é organização. Temos uma indústria forte, que gera emprego e distribui renda a milhares de famílias, além de divisas ao Estado e diversos municípios. Portanto, o desenvolvimento sustentável do setor nos faz enxergar um horizonte largo e cheio de oportunidades a nossa frente.
CO Popular- E quais são os principais desafios do setor?
Valdinei dos Santos- Um dos nossos maiores desafios é consolidar nossa reputação. A história do setor de base florestal de Mato Grosso foi construída, ao longo de muitos anos e intenso trabalho, tendo como base o manejo florestal sustentável; prática que associa produção e conservação ambiental. O Cipem defende a madeira como negócio e, para isso, precisa da floresta viva, de pé, para poder seguir trabalhando. Estamos realizando um trabalho que visa a abertura do mercado da União Europeia para nosso produto. O equilíbrio entre produção e conservação, bem como o atendimento dos critérios internacionais para exportação, certamente trará ganhos enormes à imagem do Estado como um todo.