O coletivo MT Queer, que hoje conta com mais de 50 mil inscritos em seu canal no YouTube e um tráfego de cerca de 1 milhão de visualizações mensais em suas produções, é fruto de uma trajetória extensa e árdua, que teve seu início há 9 anos atrás.
Em seu princípio, a produtora sequer havia esse nome. Criado pelo cineasta Elton Martins, o primeiro passo da história que originaria o atual MT Queer foi o Coletivo Artístico Gay de Mato Grosso (CAGAY), fundado no ano de 2015. “O CAGAY foi criado pela necessidade de ser representado nas telas, que é uma coisa que nós, pessoas LGBTs, não temos muito. Não somos retratados, então é uma necessidade da gente, enquanto comunidade, escrever para nós mesmos”, relatou Stephen Pederiva diretor e vice-presidente núcleo em Várzea Grande.
Somente em 2018, três anos após sua criação, o CAGAY torna-se o MT Queer, ainda mantendo os ideais de representatividade em suas produções que constituiu o coletivo desde o início. Crescendo conforme os anos, foi durante a pandemia que atingiu seu impulso de crescimento e alcance, prosperando cada vez mais após esse período.
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Com produções 100% independentes, desde a gravação até a edição dos curtas, longas e séries desenvolvidos, os assuntos abordados na maior parte de suas produções se voltam para as violências vivenciadas pela comunidade LGBTQIA+, na tentativa de construir um apoio e vínculo entre a comunidade. “É a lesbofobia, é a homofobia, é a transfobia. É a gente ser expulso de locais que nós podemos adentrar, mas que nós não somos bem-vistos. Então, conta as nossas histórias, de como superamos isso e de que existe uma comunidade LGBT onde você pode se apoiar”, explicou o diretor.
Abrindo o processo de inscrição para a seleção de atores uma vez ao ano, o MT Queer conta com um casting de aproximadamente 50 atores voluntários, cujos conforme o perfil necessário para cada produção específica é escalado para os devidos papéis.
Pensando na valorização não somente de suas próprias criações, mas também em constituir maior visibilidade para trabalhos feitos por criadores LGBTQIA+ para a própria comunidade, foi criado o “MT Queer Premia”. Sem premiação em dinheiro em suas primeiras edições, Stephen garante que, agora que o coletivo faz parte do circuito internacional, haverá diversas recompensas distintas para aqueles que levarem os prêmios para casa. “Agora, nós somos internacionais; vamos poder dar alguns prêmios diferenciados. Por exemplo, a gente tem diversos ingressos que vão ser dados para a entrada em festivais fora daqui. Tanto Rio, São Paulo. Há possibilidades também para fora do país, que é o que a gente vai agora”.
Inaugurada no último dia 28 de junho, a Casa de Acolhimento fundada pelo MT Queer é a “realização de um sonho”, segundo Stephen. “Muitos amigos meus foram expulsos de casa, muitas pessoas que eu conheci ao longo da vida cortaram ligações com a família. Existir essa casa de acolhimento, pelo menos esse ponto de cultura, é para que as pessoas possam ir se sentirem acolhidas lá dentro. É um ponto para a gente conseguir modificar a realidade dessas pessoas”, concluiu.
Na casa, serão ofertados diversos cursos, em busca de profissionalizar quem for acolhido, visto que, muitas das vezes, são pessoas que estão inseridas na informalidade. Dessa forma, podem encontrar na cultura uma forma de se inserir no mercado de trabalho. Em conjunto aos cursos, há também a oferta de acompanhamento psicológico, moradia e alimentação. Atualmente, Stephen assegura que a casa já abriga 3 pessoas.
O impacto do coletivo MT Queer não apenas na comunidade LGBTQIA+, mas na sociedade cuiabana e de Mato Grosso no geral se torna nítido à medida que o tempo passa, fazendo-se ainda maior devido suas últimas conquistas. Principalmente na cena audiovisual, sua influência é crucial. Com o sucesso na capacitação de seus atores, com a exportação da cultura mato-grossense para outros estados e até mesmo, para outros países. Incluindo também o acolhimento de uma comunidade de pessoas que estão majoritariamente em posições de vulnerabilidade.
Ainda sem depender totalmente de recursos externos, é importante ressaltar que a comunidade pode contribuir com o mantimento de um projeto tão essencial. Entrando em contato pelas redes sociais @mtqueer ou até mesmo no endereço da Casa de Acolhimento - que está localizada na Rua Seis, número 108, no bairro Osmar Cabral -, qualquer um pode realizar doações ou ajuda direta e indireta da maneira que lhe for possível.