O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) confirmou o teor das denúncias feitas por ele na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) nesta segunda-feira (02), em que cita um suposto uso da Delegacia Fazendária (Defaz) para prejudicá-lo politicamente. Se confirmado, ainda conforme ele, o caso seria muito maior que o da ‘grampolândia pantaneira’, quando escutas ilegais foram supostamente utilizadas para grampear adversários políticos de Pedro Taques (PSDB).
Segundo Emanuel, duas pessoas, as quais ele classifica como idôneas, o procuraram – em momentos distintos – para fazer uma denúncia de que a Delegacia Fazendária (Defaz) estaria sendo usada para prejudica-lo. Os nomes foram preservados pelo emedebista, que se colocou à disposição para falar o que sabe na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
“Fui montando o quebra-cabeças e a necessidade de não prevaricar. Estou pedindo que se apure. É exatamente o que saiu em toda a mídia hoje. A Defaz estaria, supostamente, através do delegado geral, coagindo alguns delegados para que pudessem me prejudicar, atingir minha vida pública. Para isto, utilizaria-se de um BO, que havia sido feito por uma mulher, sem qualquer nexo. Uma farsa montada. Agora, estou exigindo a investigação”, explicou o prefeito.
Ainda segundo Emanuel Pinheiro, dois delegados teriam sido afastados por não compactuar com o uso da delegacia para atacá-lo. O prefeito preferiu não detalhes nomes, mas conforme já noticiado pelo Olhar Direto, o titular da especializada, Anderson Veiga e o colega dele, Lindomar Tófoli, serão removidos da unidade.
“Eles não concordaram em compactuar com este plano para me destruir, prejudicar minha gestão. Eu pedi uma apuração, não estou condenando ninguém. Não vou me silenciar. Houve uma indignação geral dos deputados. Uma surpresa, um susto, caso isto seja comprovado. É uma violência inaceitável, caso comprovado. Fazer isto com o prefeito da Capital, imagina com o cidadão comum, com o pai de família?”, questionou o emedebista.
Por fim, Emanuel citou ainda que cogitou procurar o secretário de Segurança Pública (Sesp), Alexandre Bustamante, mas preferiu seguir com a denúncia para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), que teria o dever de fiscalizar o Executivo estadual. “Gostaria que nada disto tivesse acontecendo. Mas não poderia me silenciar. As pessoas que me trouxeram a denúncia merecem respeito e credibilidade. Não posso prevaricar”.
Denúncia
A crise entre o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) e o governador Mauro Mendes (DEM) pode virar caso de polícia. Nesta segunda-feira (02), o emedebista apresentou aos presidente e vice-presidente da Assembleia Legislativa, deputados Eduardo Botelho (DEM) e Janaina Riva (MDB), respectivamente, uma denuncia de um suposto uso da Delegacia Fazendária (Defaz) para prejudicá-lo politicamente. A acusação está sob análise da Procuradoria da Casa de Leis e será discutida entre os deputados nesta terça-feira (03), durante o Colégio de Líderes.
Conforme apurou a reportagem do governador Mauro Mendes, segundo a acusação de Emanuel, estaria pressionando o delegado-geral da Polícia Civil, Mário Demerval, a abrir procedimentos de investigação contra o prefeito, tanto no bojo da administração da Prefeitura, como em questões relativas à vida pessoal do emedebista – o que incluiria, inclusive, uma operação que estaria prestes a ser deflagrada.
O prefeito nega as acusações e afirmou, em nota, que iria acionar judicialmente as pessoas envolvidas na denúncia.
Afastamento de delegados
Um desentendimento entre a diretoria da Polícia Civil e a Delegacia Fazendária (Defaz), sobre a autonomia que a especializada teria em investigações, pode ter sido o motivo da remoção dos delegados Anderson Veiga, titular da unidade e Lindomar Tofoli, dois dos que tem mais tempo de ‘casa’.
Fontes apontam que um pedido de informações sobre investigações em curso que poderiam atingir de alguma forma o Governo do Estado teria iniciado toda a celeuma. Os dois delegados teriam sido orientados a repassar uma espécie de lista de inquéritos que estão em andamento. O episódio teria ocorrido há três semanas.
Os delegados recusaram-se a entregar a lista, citando que a delegacia tem autonomia para fazer investigações. Vale lembrar que o principal papel da Delegacia Fazendária é apurar crimes contra a ordem tributária e questões envolvendo corrupção de autoridades (mau uso do dinheiro público).
A portaria com a remoção dos dois delegados da Defaz ainda não foi publicada. Porém, os policiais estão cientes da determinação, que teria sido dada pelo diretor da Polícia Civil, Mário Dermeval Aravechia de Resende.
A reportagem tentou contato com os delegados Anderson Veiga e Lindomar Tofoli. O primeiro não atendeu às ligações, enquanto o segundo afirmou que prefere não se pronunciar sobre o assunto e que, no momento oportuno, dará as devidas declarações.
O episódio, então, não teria ligação direta com a denúncia feita pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB).
Delegado Geral
O delegado geral da Polícia Civil de Mato Grosso, Mário Demerval Resende, refutou - através de nota - a suposta denúncia encaminhada pelo prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, sobre alegado uso do aparato do Estado para investigá-lo ilegalmente. Chegou-se a comparar o fato como uma nova 'grampolândia'. Segundo o diretor, as acusações são infundadas e qualquer investigação contra o chefe do Executivo municipal teria que ter autorização da Justiça.
Confira a nota na íntegra:
Em relação às matérias dando conta de suposta denúncia encaminhada pelo prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, sobre alegado uso do aparato do Estado para investigá-lo ilegalmente, a Polícia Judiciária Civil (PJC) esclarece que:
- Foi registrado em novembro deste ano um Boletim de Ocorrência na Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz). No documento, uma servidora da Prefeitura de Cuiabá narrou suposto ato de corrupção, citando no corpo da ocorrência o nome do prefeito Emanuel Pinheiro. Em posse do documento, a PJC adotou as medidas legais para o total esclarecimento da verdade dos fatos;
- O trâmite legal aplicado às pessoas com prerrogativa de foro consiste na necessidade de autorização do órgão de instância superior do Poder Judiciário para o prosseguimento dos atos investigativos;
- Nas hipóteses em que há menção a qualquer ilicitude envolvendo um prefeito, por exemplo, eventual abertura de inquérito depende da autorização do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT). Cabe ao Núcleo de Ações de Competências Originárias (NACO), do Ministério Público Estadual (MPE), a análise dos requisitos legais e o encaminhamento ao TJ-MT para decisão;
- É preciso registrar que, em situações como esta, a PJC somente pode dar prosseguimento às investigações se houver decisão do TJ-MT neste sentido. Desta forma, a Polícia Judiciária Civil repudia veementemente as falas atribuídas ao atual prefeito de Cuiabá, constantes em matérias publicadas na imprensa, no sentido de que dois delegados de polícia estariam sendo transferidos da Defaz por “pressão política” ou por qualquer outro motivo que não seja absolutamente técnico e pautado no interesse da administração pública;
- Tais declarações são infundadas e afrontam a inteligência da população, até porque os delegados citados sequer estão à frente das investigações ventiladas;
- Além disso, as remoções são atos legais e frequentes na instituição e ocorreram em razão da criação da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (DECCOR) via Decreto 267/2019 publicado em outubro deste ano, ou seja, mais de um mês antes da lavratura do Boletim de Ocorrência supracitado, bem como a consequente reconfiguração da Defaz.
Mário Dermeval Aravechia de Resende
Delegado Geral da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso