As recentes execuções dos advogados Roberto Zampieri e Renato Gomes Nery fez com que as autoridades policiais ficassem em alerta para possíveis casos de pistolagem, que assolaram Mato Grosso em um passado recente, principalmente na época em que o bicheiro João Arcanjo Ribeiro ainda dominava o jogo do bicho em Mato Grosso, com assassinatos a luz do dia em plena via pública, modus operandi utilizado pelos pistoleiros na execução dos causídicos.
Nos dois casos, as linhas de investigação coincidem, ou seja, o Direito Agrário. A informação foi confirmada pelo delegado Nilson Fárias, responsável pelas investigações do homicídio do advogado Zampieri, que foi morto de forma semelhante, em dezembro do ano passado, na Capital.
“Claro que isso vai ser investigado. Quem está à frente desse inquérito é o doutor Bruno Abreu, e nós trocamos algumas informações do inquérito do Roberto Zampieri. Ele vai ser disponibilizado e lógico que vai ser verificado se tem algum tipo de conexão”, revelou.
O motivo da morte de Zampieri apresentado pelo delegado Nilson no inquérito policial foi justamente a disputa por uma propriedade rural localizada em Paranatinga (375 km de Cuiabá), avaliada em R$ 100 milhões. O produtor rural Aníbal Manoel Laurindo, foi apontado com convicção pela autoridade como o mandante da execução.
O advogado Roberto Zampieri foi morto com 10 tiros dentro do próprio carro em frente ao escritório. Uma câmera de segurança registrou o momento do crime. Ele foi surpreendido por um homem de boné, que disparou pelo vidro do passageiro, e fugiu em seguida.
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As equipes de socorro médico foram até o local, mas a vítima não resistiu aos ferimentos e morreu. O suspeito chegou a ficar cerca de uma hora aguardando a vítima sair do local.
Já no caso do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso, Renato Nery, a principal linha de investigação sobre a morte de Nery ainda não foi traçada pela Polícia Civil. Até o momento, sabe-se que o advogado foi executado de forma premeditada, por um atirador que o aguardava nas proximidades do escritório.
O suspeito atirou sete vezes contra o advogado, sendo que um deles atingiu a cabeça de Gomes Nery que chegou a ser socorrido, passou por cirurgia de urgência, mas morreu na UTI de um hospital particular de Cuiabá. Porém, ele havia ingressado com uma representação disciplinar junto a OAB-MT denunciando o seu colega de profissão, Antônio João de Carvalho Júnior, por supostamente agir irregularmente em uma disputa judicial de terras em Novo São Joaquim (a 465 km de Cuiabá) com interferência de desembargadores. Na peça, chegou a citar a morte do colega de profissão, Roberto Zampieri.
Mas engana-se quem pensa que os crimes de pistolagem estão apenas ligados à disputa de terras. Conforme fontes do jornal e site Centro Oeste Popular, a Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa está investigando supostas ameaças de morte envolvendo a agiotagem.
O clima de insegurança vem chamando atenção das autoridades. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Eduardo Botelho (União Brasil), cobrou um trabalho mais eficaz do setor de inteligência das Forças de Segurança para combater o crime organizado no estado. A declaração ocorreu após a execução de Zampieri e Nery, no estilo "crime de pistolagem".
“Os criminosos não estão respeitando nada, não estão tendo medo de ir no meio da rua [e matar], não estão tendo medo de entrar no Shopping Popular cheio de gente e assassinar. Invadir concessionárias, etc. Então é realmente preocupante, porque estão perdendo o respeito”, disse Botelho.
O deputado isentou a Polícia Militar que, segundo ele, tem feito um ótimo trabalho ostensivo. “A Polícia Militar tem feito um trabalho ostensivo bem presente, esse trabalho aí na rua, está fazendo um trabalho de enfrentamento duro também, que todos que enfrentaram a polícia tem se dado mal. Talvez seja preciso um trabalho mais de inteligência para combater, principalmente, o tráfico de droga e as facções criminosas”, avaliou.
Já a senadora Margareth Buzetti (PSD) destacou que a pistolagem e o feminicídio são crimes silenciosos, que ocorrem de maneira discreta, difíceis de serem contidos apenas pelas forças de segurança.
A presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), Gisela Cardoso, juntamente com uma comitiva da instituição, se reuniu com a direção da Polícia Judiciária Civil (PJC) e da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para cobrar celeridade nas investigações do assassinato do advogado Renato Nery.
“Todo crime deve ser solucionado com agilidade, sem exceção. São vidas ceifadas, porém, neste caso, esta é a segunda ocorrência sequencial com características de execução, dentro da advocacia. Há um apelo muito grande da advocacia, que está muito preocupada com os fatos”, declarou a presidente.
Outro caso que chocou a população, e também um crime cometido à luz do dia, foi o assassinato do sargento da PM Odenil Alves Pedroso, 47 anos, em Cuiabá. Ele foi baleado em frente a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na Morada do Ouro, em Cuiabá. O suspeito estava em uma moto Pop, quando passou pelo local, atirou na cabeça da vítima e fugiu. O criminoso até o momento não foi preso.
Vale lembrar que Mato Grosso é um dos líderes de conflitos por terra. As “ocorrências de conflito por terra” referem-se a casos de pistolagem, expulsão, despejo, invasão, destruição de roças, casas e bens, assim como ameaças, o que faz com que as forças de segurança intensifiquem o trabalho de investigação.