A Operação Suserano, deflagrada nesta terça-feira (24) para investigar a suspeita de desvios de recursos oriundas de emendas parlamentares à Secretaria Estadual de Agricultura Familiar (Seaf), identificou que a Tupã Comércio e Representação, principal empresa beneficiada pelo suposto esquema, pertence a um "laranja".
A Tupã recebeu pelo menos R$ 8,6 milhões para a compra de kits de ferramentas para a agricultura familiar, por meio de um convênio entre a Seaf e o Instituto de Natureza e Turismo Pronatur, que tem como diretor-presidente Wilker Weslley Arruda e Silva.
"Os relatórios de investigações apontam que Euzenildo seria pessoa humilde, com ocupação declarada de “chapeiro”; sem qualquer bem móvel ou imóvel em seu nome"
O esquema pode ter dado um prejuízo de R$ 28 milhões dos cofres públicos em recursos oriundos de emendas impositivas de deputados estaduais, consta na decisão judicial que autorizou a operação, ao qual o MidiaNews teve acesso.
A Tupã tem como sócio administrador Euzenildo Ferreira da Silva, que seria laranja do empresário Alessandro do Nascimento, também investigado na operação.
“Os relatórios de investigações apontam que Euzenildo seria pessoa humilde, com ocupação declarada de “chapeiro”; sem qualquer bem móvel ou imóvel em seu nome”, consta na decisão do juiz João Bosco Soares da Silva, do Núcleo de Inquéritos Policiais de Cuiabá, que determinou as ordens judiciais da operação.
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Conforme as investigações, a Tupã tem como sócio oculto Alessandro do Nascimento.
A Polícia diz que Alessandro “é o principal articulador do esquema criminoso, detentor de procuração com amplos poderes do sócio-laranja da empresa Tupã, Euzenildo, o qual seria o proprietário de fato de outras empresas, tais como: Tubarão Empreendimentos, Ribeiro Comércio, KSH Comércio e Alessandro do Nascimento – ME”, diz a decisão.
Outro fator que levou à Polícia a ligar Euzenildo a Alessandro foi o fato de que, ao tirar sua segunda via da identidade, em 2019, Euzenildo indicou como endereço a rua Vereador Wilson Alves Diniz, nº 112, em Cuiabá. Ali funciona a sede da Associação Atlética e Cultural Nacional, cujo diretor-presidente é Alessandro do Nascimento.
Dinheiro "pulverizado"
As transações financeiras entre empresas investigadas também chamaram a atenção da Polícia.
Os investigadores identificaram que após uma transferência de R$ 8.657.092,49 do Pronatur para a Tupã Comércio e Representações, esta faz remessa de valores para as empresas Ribeiro Comércio e Serviços (em que Alessandro consta como ex-sócio formal), Frontline Distribuidora Importação e Exportação e Alessandro do Nascimento – ME.
Em seguida, esta última enviou valores a Ana Caroline Ormond (filha de Alessandro), Diego Ribeiro de Souza (sócio de Alessandro) e também para a Associação Atlética e Cultural Nacional, presidida por Alessandro.
A operação
A Operação Suserano foi deflagrada a partir do relatório de auditoria da CGE, que apontou sobrepreço de até 80% do valor de mercado em termos de fomento que seriam usados para a compra de kits de agricultura familiar, no valor de R$ 28 milhões.
Os policiais civis cumpriram mais de 50 ordens judiciais, sendo 11 mandados de busca e apreensão, nos endereços dos investigados em Cuiabá, Várzea Grande e Alto Paraguai, por equipamentos eletrônicos e documentos.
O Poder Judiciário determinou o sequestro de imóveis e veículos e o bloqueio de bens e valores até R$ 28 milhões, além do afastamento dos servidores públicos envolvidos.