Cerca de 30 famílias continuam morando no condomínio Terra Nova, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, após receberem uma notificação da Defesa Civil, no dia 29 de outubro, pedindo que deixassem as casas imediatamente por risco de desabamento. Ao todo, foram 54 famílias notificadas.
As principais dificuldades relatadas pelos moradores que continuam no local são: falta de dinheiro, falta de casas disponíveis ou que atenda as necessidades da família. A empresa responsável pelo empreendimento, a Rodobens, informou que se reuniu com o síndico e com o advogado do condomínio na sexta-feira (1°) e foram informados que apenas 24 moradores haviam se mudado.
A empresa disse que ofereceu uma ajuda de custo aos moradores no valor de R$ 1,5 mil, mas não o valor não foi aceito. Em contraproposta, os moradores pediram uma ajuda de R$ 2 mil mensais para casas que não tiveram ampliações e R$ 2,5 mil para casas ampliadas.
A construtora afirmou que aceitou a proposta dos moradores e que ainda oferecerá R$ 4 mil para ajudar na mudança, sendo R$ 2 mil para a saída deles e outros R$ 2 mil para quando voltarem. Além de R$ 285 para moradores que mudarem para outros condomínios.
O valor da mudança será pago em apenas uma parcela. Já o auxílio-moradia de R$ 2 mil será pago durante seis meses, podendo se estender caso os problemas no condomínio Terra Nova não sejam resolvidos dentro desse prazo.
O advogado do condomínio, Ademar Santana Franco, disse que entrou com uma medida cautelar de produção de provas para que os problemas estruturais do local sejam esclarecidos. “A construtora se propôs a ajudar os moradores, mas até agora não tem nada oficial e alguns moradores continuam nas casas. São 54 famílias, até a última atualização apenas 24 se mudaram. Cada uma tem sua particularidade e a construtora precisa atender as necessidades delas de forma individual”, ressaltou.
Ademar afirmou que está agudando uma resposta da construtora para que possam se reunir novamente e oficializar o que deve ser feito no local. “Isso deve ser resolvido ainda nesta semana. A preocupação do condomínio é com a segurança dos moradores”, afirmou.
A cabeleireira Karla Patrícia De Jesus Souza é uma das moradoras que continua no condomínio. Ela tem três filhos, sendo um de 14 anos, um de 10 anos e um bebê de 6 meses.
Karla afirmou que foi pega de surpresa com a notícia de que teria que desocupar o imóvel o qual mora há seis anos. Ela precisou emprestar dinheiro de amigos e familiares para conseguir se mudar.
No entanto, ela encontrou outro obstáculo, que foi encontrar uma casa que atenda as necessidades da família. “Desde a notificação estou tentando encontrar uma casa para alugar, mas não encontro. Não durmo mais de tanta preocupação. Estou desesperada”, ressaltou.
Segundo Karla, a casa dela possui rachaduras no teto, canos estourados e o muro que fica ao lado da residência está desabando. “Não sei mais o que fazer. Precisei fechar meu salão por esses dias, pois estou nas ruas procurando casa. É desesperador, ainda mais com criança pequena. Estou refém de várias coisas, mas espero encontrar um abrigo até o fim do dia”, disse.
outra moradora que permanece no condomínio é Liliane Lopes. Ela contou que a casa dela possui móveis planejados e, por isso, está com dificuldades de encontrar um local que atenda as necessidades dela e do marido. “Não consigo arrancar meus móveis do lugar. Preciso de uma casa que seja mobiliada, mas é difícil encontrar. Além disso, os preços são altos, principalmente aqui na região que as pessoas já sabem da nossa necessidade e aproveitam para aumentar o preço”, relatou.
Liliane afirmou que essa situação está sendo um 'pesadelo' para ela. “A ficha ainda não caiu”, ressaltou.
A Defesa Civil havia feito uma vistoria no condomínio em agosto deste ano e concluiu que os imóveis apresentavam rachaduras e fissuras. “Foram verificadas marcas de vazamentos de água, causando preocupação, pois pode estar havendo excesso de pressão no local com acúmulo de água e não foi identificado nenhum dreno para estes casos”, disse a coordenadora.
No dia 23 deste mês, a 6ª Promotoria de Justiça Cível de Várzea Grande notificou a construtora para que adotasse as medidas de prevenção necessárias para reduzir o risco de desabamento do muro de contenção existente nos fundos do condomínio.
Também requisitou que no prazo de 10 dias a empresa apresentasse cópia dos projetos aprovados referentes ao muro de contenção, acompanhados da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do profissional que elaborou os projetos e que executou a obra. No entanto, os moradores afirmaram que continuam sem resposta por parte da construtora.
Nota de esclarecimento
A incorporadora RNI reuniu-se com representantes do condomínio Terra Nova Várzea Grande e anunciou apoio aos moradores. Cada uma das 54 famílias receberá um auxílio mudança de R$ 4 mil para custeio da saída e do retorno às unidades. Será oferecido também, por um período inicial de seis meses, auxílio moradia de R$ 2 mil mensais por unidade, com acréscimo de R$ 500 mensais no caso de casas ampliadas, além de R$ 285 como apoio de taxa de condomínio. Para que esse suporte seja efetivado, os proprietários devem aceitar formalmente a oferta, por meio da assinatura de um Instrumento de Transação. Esse documento também autoriza a empresa a ter acesso às unidades danificadas, para avaliação individual dos danos e providência dos reparos. Todas as medidas anunciadas demonstram o respeito da RNI com os seus clientes e a solidariedade da empresa com os moradores afetados. A ajuda é simultânea à apuração das causas dos prejuízos verificados, ainda em andamento. Uma empresa de engenharia independente realizou nova vistoria no local nesta segunda-feira (4), e os dados preliminares reforçam os resultados indicados por outro laudo técnico realizado em julho: a movimentação do solo e os danos envolvem construções posteriores à entrega do residencial, há dez anos. A companhia não tem conhecimento sobre os métodos construtivos ou processos adotados nessas ampliações ou modificações.